“Appaloosa” por Nuno Reis

Todos os anos algum filme recupera o western. Este género já teve a sua época dourada, mas ao contrário de tantos outros parece nunca sair de moda. A grande vantagem é poder combinar de variadas formas imensas histórias emocionantes. A aventura de explorar um novo mundo, o perigo à espreita em planícies e cidades selvagens, a adrenalina da batota nos jogos de cartas e, claro, o romance. Com tanta variedade não admira que o tema não esgote. Ed Harris é um daqueles nomes que atrai as pessoas ao cinema pelo seu talento. Nos últimos anos tem construído uma carreira diversificada onde será recordado como herói, vilão, pintor, poeta, treinador e realizador. O único género inontornável que lhe faltava era o western e decidiu por isso atacar aqui em força e estrear-se em diversas frentes. Foi apenas a segunda vez que realizou e produziu em cinema (a vez anterior foi “Pollock” para ambas as funções) e foi a primeira vez como argumentista, compositor e cantor.

Em Appaloosa a lei é cumprida por todos excepto o rancheiro Randall Bragg (Jeremy Irons). O seu desrespeito pela lei atingiu o limite quando abateu o xerife e os seus dois deputados durante o exercício de funções. Os governantes decidem por isso contratar dois veteranos de guerra para policiar a cidade e levar Bragg perante a justiça. As condições do novo xerife Virgil Cole (Harris) e do seu deputado Everett Hitch (Vigo Mortensen) são simples: o que eles disserem é lei, com efeitos imediatos. Aceitando essas condições a cidade começa a ver melhorias imediatas na sua segurança. Os homens de Bragg são abatidos quando pisam o risco e o frente-a-frente não demora.
A chegada de Allison French (Renée Zellweger), uma jovem viúva à cidade pode ter sido indiferente para muitos, mas Virgil e Everett não param de pensar nela. Amigos e aliados desde sempre, terão o que é necessário para enfrentar o maior desafio das suas vidas?

Partindo de uma história banal é construída uma boa narrativa que tem muitos dos elementos-chave do western. Virgil não se consegue adaptar ao mundo tendo para isso a ajuda discreta de Everett que disfarça as suas imperfeições. Virgil é um elemento incompreensível e sem ele teria sido possível fazer um filme talvez melhor, sem Everett não. Olhando para Everett com atenção (não é fácil vê-lo de forma séria com uma barba daquelas) temos tudo o que se podia querer do filme. Tem coragem, integridade, sagacidade, e presença. Everett protagoniza ainda todos os silêncios e momentos mortos que enriquecem o filme. A parte mais difícil da arte de filmar é saber quando não é preciso fazer nada e isso o realizador fez bem.
Nos pontos negativos o primeiro item da lista é Zellweger com uma actuação terrível. Não fazer nada bem seria suficientemente mau, mas parece actuar mal de propósito. Depois há o problema de ser tão previsível…

No fundo é só mais um western que nada traz de novo, apenas evita alguns erros dos antecessores. Pelo seu tom divertido vê-se bem, mas continua a ser para um público demasiado específico. A não ser que seja mesmo feita a falada sequela cairá no esquecimento.