“Breaking and Entering” por Ricardo Clara

De Anthony Minghella é lícito esperarmos sempre um belo pedaço de cinema. Oscarizado em 1997 pel’ “O Paciente Inglês”, o realizador inglês trouxe-nos também “Truly, Madly, Deeply” e “Could Mountain”, vencedores de um punhado de prémios, bem como o insosso “The Talented Mr. Ripley”, mas que mesmo assim assentava com óptimos momentos de direção autoral. Em “Braking and Entering” / “Assalto e Intromissão”, Minghella regressa à escrita de argumentos 15 anos depois – e, como se percebe, bastante enferrujado. Num filme onde se misturam refugiados bósnios, prostitutas de leste, uma criança autista, um casal em crise, empregadas africanas (que citam Kafka enquanto despejam o lixo) e arquitectos sedeados num bairro problemático de Londres, é crível que a dificuldade de criar uma boa obra é bastante elevada. E a película ressente-se disso. Will (Jude Law) é um arquitecto que, sedeado em King’s Cross, vê o seu atelier ser assaltado duas vezes em menos de uma semana, por jovens de ascendência bósnia a mando de um imigrante dessa região dos Balcãs. Ao perseguir um deles – Miro (Rafi Gavron) – o jovem arquitecto descobre onde mora e, ao verificar que a mãe deste (Amira – Juliette Binoche) é costureira, aproxima-se dela com pretextos desta índole, acabando por se envolver amorosamente, traindo a sua esposa Liv (Robin Wright Penn) e debilitando um já de si frágil casamento.
Com uma trama densa como esta, esperava-se muito mais do cineasta. As personagens são vazias e inócuas, e não cativam ao longo das duas horas de filme – diálogos longos e desinteressantes, não poucas vezes despropositados e muito teatralizados, e que não conferem um crivo de realidade e de profundidade ao enredo. Opta-se, isso sim, pela superficialidade – das personagens e das relações – tombando Minghella pela via menos interessante. Está, efectivamente, bem filmado – quer na fotografia, quer nos movimentos de câmara – mas não se obtêm resposta “do lado de lá”. Não é explorada a relação Jude Law – Robin W. Penn (e que teria muito por onde se explorar), nem a destes com a filha autista, bem como a influência desta no deteriorar da vida conjugal, em vez de uma relação com uma imigrante bósnia, maçadora e chantagista, e que vai acabar por desaguar num final recheado de patriotismo bacoco e desnecessário, dando uma nota final que entristece um filme já de si profundamente taciturno.