“Dot.com” por António Reis

“Dot.com” é o exemplo perfeito do dilema do cinema português. Pode ter uma boa ideia, com originalidade e actualidade, mas mesmo assim consegue estragar quase tudo em função da realização e da direcção de actores. Galvão Teles que nunca passou da mediania como realizador, confirma em “Dot.com” que lhe falta talento para criar uma comédia que fosse inteligente e comercial no sentido em que atingiria um público relativamente amplo.
Comecemos pelo guião: a uma aldeia que desespera por uma estrada que a ligue ao progresso, chega um engenheiro que lhe fornece a única auto-estrada que não necessita de alcatrão, a da informação. Com 39 habitantes, pretensamente rural, um padre brasileiro rendido às novas tecnologias e uma democracia directa, Águas Altas descobre-se numa guerra desigual com uma multinacional espanhola que a ameaça de um processo judicial e indemnização por usurpação de registo. Este David contra Golias, ainda para mais um David português contra um Golias espanhol, tinha todos os condimentos para uma comédia sobre identidade, regionalismo, integração europeia e chauvinismo. Mas todos este material de sátira é desperdiçado por uma realização preguiçosa de uma lentidão exasperante, um argumento em que a lógica muitas vezes é incompreensível e onde o humor se fica por algumas tiradas. Bem pode o final pretender salientar a proverbial esperteza saloia dos portugueses, bem pode Galvão Teles incorporar crítica política ao argumento que “Dot.com” não ultrapassa o limiar de um filme medíocre. É caso para se perguntar por que razão foi o Presidente da República emprestar a sua figura institucional ao lançamento muito mediático e em versão campestre chique na aldeia onde o filme foi rodado. Os caminhos do cinema português não passam por aqui, porque nem comédias de costumes conseguimos fazer de jeito.