“Huo Yuan Jia” por Nuno Reis

Ronny Yu é um dos mais conceituados realizadores de Hong Kong. Depois de vários filmes chineses arriscou-se no mercado ocidental e fez uma co-produção americana “Warriors of Virtue” (exibida no Fantasporto). Os três filmes seguintes – “Bride of Chucky”, “State 51” e “Freddy vs. Jason” – foram vistos por todo o mundo e propostas não faltariam para continuar, por que razão voltou Yu aos filmes chineses? Porque teve uma oportunidade de fazer um filme que retratava um dos maiores heróis da China. Este filme quase biográfico sobre Huo Yuan Jia, retrata a vida de um lutador que serviu de inspiração a toda a China. O contexto histórico necessário para compreender o filme é mínimo e pode ser resumido num parágrafo.
Até finais do século XVIII a China esteve fechada ao comércio externo (com excepção de Cantão e Macau), mas uma guerra em meados do século XIX fez com que os estrangeiros entrassem na China e com intenções de a controlar, uma guerra no final do século com o Japão aumentou o domínio externo e uma revolta tentada em 1900 foi detida. Há um século a China era apenas um território dominado por oito potências estrangeiras (incluindo Inglaterra, França, Alemanha, Rússia e Japão).
Huo Yuan Jia insurge-se contra esses invasores e contra o termo que utilizavam para referir os chineses – dongya bingfu, os enfermos da Ásia – e irá lutar contra todos eles para que o seu povo aprenda a autorespeitar-se.
O argumento não corresponde à realidade, criaram uma fábula baseada na história de Huo. Tornou um herói real num herói dos filmes clássicos, seria um filme mais agradável se não tivessem já criado centenas de personagens imaginárias assim. Desta vez poderiam ter-se cingido à realidade que por si só era melhor do que qualquer ficção.
O filme é bastante fácil de ver, os combates não são tão exagerados como aqueles a que o cinema oriental nos tem habituado, mas Jet Li continua a exibir-se mais do que o necessário. A nível visual surpreende pela simplicidade dos cenários e pelas magníficas paisagens.
Este retrato da China de há cem anos poderá ser útil para compreender esse povo nesta nova fase de afirmação da potência asiática. Neste momento a China não é o enfermo da Ásia e os seus braços atingem todos os cantos do mundo. Pode não ter sido apenas obra de Huo, mas decerto que os ajudou a encontrar um rumo.