Chapter 27″ por Nuno Reis

Quem vai ver um filme biográfico sobre um assassino não espera um final feliz. Se entre as vítimas estiver um ídolo de muitos milhões – alguém que era “mais popular do que Jesus” – então a personagem central é odiada e tanto ela como o filme estão condenados à partida. Então para quê fazer um filme sobre quem teve a ousadia de tirar ao mundo um dos seus maiores artistas? Talvez para compreender a mente de um louco, para perceber os motivos que o levaram a atravessar o país para fazer o mundo sofrer.

Chapman levou a sua vida simetricamente ao livro “The Catcher in the Rye”. O filme consegue manter-se fiel ao estilo do livro por ser introspectivo, intimista, e revelar os pensamentos através de uma excelente gestão da narrativa.
Primeira obra de Schaefer, revela desde logo um estilo muito próprio. A sociopatia está reflectida em tudo no filme e o poster em tons de cinza combina com o que se vê em tela. Seria um belo filme em preto e branco. Mantém um tom pesado, fechado, noir. Por vezes alguma alegria dos fãs interrompe o mundo cinzento de Chapman e essa quebra perturba-nos, tal como perturba Chapman. As dúvidas que o assolam em cima da hora colocam o espectador a questionar-se se o assassinato irá mesmo ter lugar nesse dia.

Leto tem aqui um grande papel por dar vida a um criminoso abominável e conseguir que mereça pelo menos piedade. Pode já ter entrado em muitos filmes famosos, mas é por este que será recordado. Quanto a Lindsay Lohan parece ter descoberto o seu lugar no cinema, como personagem secundária e sem liberdade para interferir. Um ano antes esteve em “Bobby” onde mataram JFK, agora a vítima é John Lennon. Analisando toda a carreira adulta foi com papéis pequenos em dramas que se saiu melhor.

Quase trinta anos depois (27 para ser exacto, coincidência?) seria de supor que este crime já estivesse esquecido. Mas um evento com tanto impacto não desaparece simplesmente. Era necessário recordar para poder esquecer. O filme peca por chegar demasiado tarde. Tinha de demorar para não reabrir as feridas, mas neste momento já a geração original de fãs dos cabeludos ultrapassou o trauma e para os outros é indiferente, têm novos heróis.

Fica por determinar qual a razão de ser desta obra. O filme não defende o crime, não justifica Chapman, não homenageia Lennon. Quanto muito tenta mostrar que foi uma acção de um homem tresloucado e não uma conspiração de Nixon, da Igreja, ou mesmo dos senhores da guerra. Como referi é fascinante a forma como está construído em torno do livro e a interpretação de Leto é extraordinária, tirando isso é um trabalho perfeitamente dispensável.