“Yes Man” por Nuno Reis

Numa época em que os rostos andam franzidos e de mau humor, não se convive com o próximo e se tem demasiado medo de arriscar, surge um filme que quer contrastar com tudo isso. A mensagem que transmite é importante. Qual a piada de ficar sozinho em casa a ver filmes alugados se podemos sair, conhecer novas pessoas e gozar a vida?

Um homem famoso por dizer que não a tudo e viver solitariamente vai ser puxado por um amigo para um culto do sim. Nessa igreja vai ser exorcizado para se libertar do não e começar a dizer sim à vida. A única maneira de o fazer é dizendo sim a tudo. Obviamente isso origina situações engraçadas. Dá boleia a sem-abrigos, embebeda-se, faz jogging matinal, assiste a concertos alternativos, veste-se de Harry Potter, em suma, começa a ter uma experiência diferente de vida. Claro que também lhe acontecem coisas más, mas se ele for realmente positivo descobre em cada imprevisto uma nova oportunidade para viver. Além disso, sempre que tenta dizer não… arrepende-se.

Misturando momentos brilhantes de humor e de overacting Carrey está igual a ele próprio. Comparando com algumas das tentativas recentes de comédia que nos trouxe está bastante bem. O espectáculo depende dele como seria de esperar. Zooey Deschanel tem uma boa personagem. Foge ao comum sem ser misteriosa ou seguir estereótipos e chega a ser fascinante. Como habitualmente utiliza os seus dotes vocais para cantar algumas músicas, desta vez pouco convencionais. Os actores secundários foram escolhidos por catálogo em séries televisivas. A ex-mulher de Carl é interpretada por Molly Sims (“Vegas“), o melhor amigo é Bradley Cooper (“Alias“), a noiva deste é Sasha Alexander (“NCIS“) e Patrick Labyorteaux (“JAG“) é um dos clientes do banco. Nenhum tem realmente muito interesse para a história, é especialmente o estreante Rhys Darby que nos proporciona as melhores gargalhadas.

Ao início corre tudo bem. A sátira da igreja está deliciosa e o sem-abrigo que se aproveita de todos eles é um elemento fundamental na construção da história. As personagens são agradáveis, as situações são divertidas e tem momentos hilariantes. No final e injustificadamente torna-se um romance convencional. Os eventos sim do passado podiam convergir num desenlace melhor. O argumento era perigosamente parecido com “Liar, Liar” e conseguiu fugir a isso, mas tem uma cena decalcada de “Ella Enchanted“.
Entretém e diverte, mas só se aprende que devemos agarrar as oportunidades e que nos devemos aproveitar de quem diz sim sem pensar.