A Real Pain

Jesse Eisenberg tem conseguido um estranho equilíbrio entre o cinema mainstream e o indie. Este seu projeto pessoal foi nova presença em Sundance e a rapidez com que entrou no catálogo Disney (para a chancela Searchlight) fazia prever um lançamento mediático. Foi só preciso esperar um ano pela estreia.

No próximo parágrafo vamos ver como este filme se concretizou por intervenção de muita gente.

Esta história nasceu de duas personagens criadas por Eisenberg em momentos distintos. David nasceu de uma peça estreada em Nova Iorque, sobre um judeu com uma familiar polaca que sobreviveu ao Holocausto. Benji nasceu numa peça estreada em Londres. Nos palcos Eusenberg foi ambos. Quando chegou a oportunidade de os juntar e ia ter de dividir os papéis, chegou a pensar ficar com o de Benji por ser mais complexo, mas a amiga e produtora Emma Stone aconselhou-o a não se dar todo esse trabalho visto que já era realizador e argumentista. Isso fez com que – por sugestão da irmã – falasse com Keiran Culkin, uma das estrelas do momento. Juntaram-se outros nomes ao ecrã também por sugestão de terceiros e o resultado final foi este.

David e Benji são primos. Em tempos foram próximos, mas a vida afastou-os um pouco. O testamento da sua avó queria que eles visitassem a Polónia e os campos de concentração pelo que, quando a agenda de David o permitiu, lá foram os primos numa pequena aventura pela Europa. Para a parte que está nos livros de História inscreveram-se num excursão guiada com alguns outros judeus para explorar Lublin e arredores. E reservaram um dia para visitar a sua história familiar. Nada de complexo.

David é uma personagem mais plana e dentro do habitual para Eisenberg. Correto, contido, ansioso, introvertido. Benji é desde o início bastante exuberante e alternativo, mas com bom coração. Cria laços com todos os companheiros de viagem e mesmo com as pessoas com quem se cruza fugazmente. Com o decorrer da história vamos mudando de opinião sobre ambos. Não tanto pelo impacto do que presenciam, mas pelo contacto retomado e pelas conversas nunca tidas. A carga histórica é garantida pelas pessoas mais velhas do grupo, mas os jovens também carregam uma bagagem bem pesada.

O título  fala de dor e aqui temos vários tipos. Ainda que muitos se estejam a referir à Polónia como uma personagem central da história, podia ter sido feito em vários outros locais. O filme acaba por não ser tanto sobre a dor de um povo, mas sobre a dor de perder uma familiar querida e do afastamento que se cria entre familiares. Este duo sente as três coisas ao mesmo tempo. Cada uma delas difícil de suportar. Todas juntas, impensável.

A dinâmica entre os dois é a alma da história. Sejam discussões ou silêncios, tentativas de se conectarem ou momentos em que a relação parece irremediavelmente destruída, tudo contribui para a representação verosímil de uma relação familiar: muitas imperfeições e amor incondicional.

Apesar das várias camadas, o filme aparenta ser muito simples e faltam momentos memoráveis, respostas fáceis e um final grandioso para funcionar com um público alargado. A vitória nos Oscares para Culkin, além de muito merecida, é o que vai manter o filme na memória coletiva por algum tempo.  E pode ser que aos poucos este trabalho seja transmitido para pessoas que querem pensar na vida, algo para aliviar a dor e que procuram uma cura simples para a perda.