Big Eyes Quem tem acompanhado a carreira de Tim Burton é capaz de o associar imediatamente ao fantástico, a nomes como Johnny Depp e Helena Bonham Carter e ao padrão zebrado entre vários tons escuros. Pois “Big Eyes” é quase a antítese de tudo isso. Na verdade há uma camisola às riscas pretas e brancas. E há algumas breves cenas ligeiramente psicadélicas. E participam nomes habituais como Danny Elfman e Colleen Atwood. Mas tirando isso é um filme com um pouco de romance, um pouco de comédia, muito cor-de-rosa… Surpreendidos? Não estejam. Afinal, Burton é senhor para fazer o que lhe der na cabeça e neste caso, convinha-lhe ser brando na introdução de uma história tão negra e fascinante como aquelas a que nos tem acostumado. O filme não era para ser realizado por ele, mas como era um velho admirador de Margaret Keane, depressa assumiu as rédeas do projecto, para nossa satisfação. “Big Eyes” é a história de uma mulher numa altura em que não era fácil ser mulher, o final dos anos 50. Margaret fugiu de um marido abusivo para a vibrante San Francisco, terra de artistas e liberdade cultural. A vida era difícil, mas tinha de sustentar a filha e por isso trabalhou como decoradora de mobília. Nos dias livres, era artista de rua, criando caricaturas de quem passasse. Foi aí que conheceu Walter Keane, um pintor bon vivant e entusiasmado com tudo na vida. Depressa casaram e a iniciativa de Keane colocou-os em exposição num clube da moda onde depressa começaram a vender. Só que como ambos assinavam Keane, ele foi ficando com o crédito pela obra dela, e ela, menos dotada para a promoção, deixou-o continuar na mentira. Os anos foram passando e a mentira foi crescendo tão depressa como a fama. Margaret quis acabar com a farsa e revelar-se ao mundo, mas Walter não o permitia. Sendo um filme de Burton e sobre pintura, a cor é de enorme importância. Tentei fixar as mais relevantes, perdoem qualquer falha ou imprecisão. A primeira cor no filme é o verde. Quando Margaret deixa o primeiro marido e a moradia nos subúrbios, partindo rumo ao desconhecido. Simboliza a felicidade, liberdade e esperança. Depois surge o rosa, o mundo de sonho para onde Walter a levou. Mas é um rosa forçado, enjoativo, a fazer recordar “Charlie and the Chocolate Factory” e os seus excessos de cor. As cores vão perdendo importância e os quadros começam a surgir. Cada um com a sua história. Cada um com uma nova mentira. O império vai crescendo, o dinheiro vai entrando, Walter está delirante e Margaret destroçada. Lentamente, a cor dominante é o amarelo. Tal como naquele quadro da rapariga loira com o gato com o qual as mentiras começaram. É a cor da dor, da traição, do fogo. Finalmente vem o azul, como o céu e o mar do Havai. Cor da liberdade. Cor de uma nova fase de progresso como Picasso poderia dizer. Todas essas cores podem ser vistas em vários adereços, mas o fundamental é o vestido da filha, Jane. Ela é o farol que guia Margaret e a cor que enverga diz muito sobre o estado de espírito de ambas. O branco normalmente é um novo começo. No elenco temos os inconfundíveis olhos de Amy Adams, uma das actrizes mais adoradas de Hollywood e que nos tem trazido inúmeras interpretações de pessoas reais com quem simpatizamos imediatamente. A forma como equilibra emoções como o medo e a felicidade são fabulosas e como normalmente interpreta personagens frágeis tem sempre o carinho e apoio do espectador. Quase do lado oposto estava Christoph Waltz, um dos nossos vilões favoritos. Mesmo quando é mau gostamos dele, por isso não é nada difícil gostar dele quando aparece bem-disposto a recordar o tempo que viveu em Paris. A sua progressão para um manipulador agressivo é gradual e com momentos bipolares, algo que só grandes actores conseguiriam fazer e Waltz faz brilhantemente. Mesmo depois de tudo revelado e de sabermos quão perigoso é, ainda não é fácil antipatizar com ele. A acompanhar a dupla estão Delaney Raye e Madeleine Arthur, respetivamente como a pequena e a não tão pequena Jane, criança entediada, maravilhada ou aterrorizada. Há ainda um momento do grande Terence Stamp, convidado de luxo de Burton para desestabilizar a mentira estabelecida. Com actores assim, é tão fácil fazer grandes filmes. Sintetizando, “Big Eyes” é a escolha perfeita para quem não apreciar o estilo único de Burton. A sua história simples e já conhecida, assim como os rostos conhecidos em personagens simpáticas, são uma excelente forma de ficar a conhecer o realizador mais ousado da actualidade. Depois poderão passar para “Big Fish” e seguir por aí em diante até aos títulos mais pesados. Para quem não for estranho ao Burton mais estranho, será uma surpresa ver este lado “normal” dele (ainda que o cineasta ocasionalmente aproveite para nos surpreender com uns olhos grandes). É preciso ver sem pensar que é de Burton, mas seguramente depressa ficarão arrebatados e esse exercício será tão natural como perder a noção da respiração. Big Eyes She created it. He sold it. And everyone bought it. 20141 h 46 min Click an icon to see more Overview No final dos anos 1950, início dos '60s, o artista Walter Keane atinge enorme fama e sucesso com retratos onde os olhos pareciam enormes. Contudo, ninguém percebe que a sua esposa, Margaret, é a verdadeira artista atrás do pincel. Metadata — Director Tim Burton Writer Larry Karaszewski, Scott Alexander Runtime 1 h 46 min Release Date 24 December 2014 IMDb Id tt1126590 Details Movie Media — Movie Status — Movie Rating Good Images No images were imported for this movie. Actors Starring: Amy Adams, Christoph Waltz, Danny Huston, Jon Polito, Krysten Ritter, Jason Schwartzman, Terence Stamp, Madeleine Arthur, Delaney Raye, James Saito, Farryn VanHumbeck, Guido Furlani, Elisabetta Fantone, Emily Maddison, Brent Chapman, Gabe Khouth, Dylan Kingwell, Peter Kelamis, Deni DeLory, Desiree Zurowski, Vincent Gale, Fred Keating, Byron Bertram, Heather Doerksen, Eliza Norbury, Ryan Beil, Frenchy Gagne, Fiona Vroom, Jill Morrison, Leela Savasta, Linda Sato, Traci Toguchi, Stephanie Bennett, Andrea Bucko, Emily Fonda, Aaron Craven, Lear Howard, Heather Ireland, Linda Marr, Doreen McKenzie, Elizabeth Urrea, Kari-Ann Wood, Dale Wolfe, Patricia Mayen-Salazar, Tony Alcantar, Darren Dolynski, David Milchard, Andrew Airlie, Forbes Angus, Michael Kopsa, Alan MacFarlane, Thomas Potter, Colleen Winton, Pomaika'i Brown, Dan Cooke, L.G. 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