Chip ‘n Dale: Rescue Rangers (2022)

Algumas séries fazem parte do nosso imaginário e mais de uma geração sabe o que foi crescer a ver o Clube Disney. “Rescue Rangers” foram um imprevisível sucesso na sua altura. Quando os patos (Duck Tales, Darkwing Ducks, Mighty Ducks) reinavam na televisão e “The Rescuers” falhavam no cinema, alguém sugerir uma série sobre os quase desconhecidos vizinhos irritantes de Donald, seria motivo para despedimento. A verdade é que o relativo anonimato dos esquilos (Tico e Teco em Portugal) fez com que a série entrasse pela porta pequena e permitisse fazer algo focado nos mais pequenos heróis. Até hoje, o genérico da série é sinal que algo épico se aproxima.

Quando me dizem que vem aí um filme sobre Chip and Dale, a atenção é pouca. Quando dizem que é sobre os Rescue Rangers, as orelhas ficam atentas. Se adicionam vozes de Andy Samberg e John Mulaney, parece ter tudo o que seria preciso e é imperdível. A verdade é que o elenco ainda melhorou, com J.K. Simmons, Seth Rogen, Keegan-Michael Key, Eric Bana e Will Arnett. Não havia por onde correr mal! Até que saiu o trailer…

A primeira nota é que, se querem fazer uma série nostálgica, devem respeitar o estilo. A entrada no mundo CGI fez logo temer o pior. No entanto, lá fui eu e a verdade é que o início até justifica algumas decisões. Chip e Dale já tinham estilos diferentes e opiniões diferentes, juntando objetivos diferentes, obviamente seguiram vidas separadas. Crescer também é ver os nossos heróis a tornarem-se humanos. Ou esquilos. E se Indiana Jones e Magnum P.I. não seriam a mesma pessoa, claro que os seus fãs roedores também não poderiam ser. Mas vê-los a tornarem-se tão cinzentos esmaga qualquer réstia de esperança que se pudesse ter num futuro risonho.

O filme não tenta rentabilizar na nostalgia ou sequer focar-se nos seguidores da série. É como se alguém tivesse decidido replicar a missão de Eddie Valiant em Roger Rabbit e salvar o Mundo da Animação da nova ameaça. O argumento foca-se em problemas da indústria que não afetam o espectador comum e portanto, acaba por não ser o que queríamos ver. Nem algo que se queira ver.

A Disney usa muitos dos seus trunfos, combina muitos estilos, e faz imensas referências para garantir que cada espectador perceberá alguma. Mas no fim acaba por ser apenas uma amálgama de estilos e ideias que correriam muito pior com qualquer outro produto menos irreverente. Até aceito que pensassem neste produto para o efeito, mas o mínimo que se exigia é que tivessem algum fã da série na equipa criativa para defender os interesses desta propriedade intelectual. Ter fãs nas personagens não foi suficiente. Nem sequer perto disso.

Por incrível que pareça, é um filme que não funciona com as crianças de hoje e que afastou várias crianças dos anos 90. Os poucos momentos brilhantes perdem-se no meio da longa sequência de cenas entediantes e por vezes simplesmente más. O que o salva de ser pior filme do ano é que, entre as várias piadas falhadas, tem várias auto-críticas no momento certo. Só acabei de ver por respeito ao material original.