Gondola

No final dos anos 90, Veit Helmer presenteou-nos com “Tuvalu”. Foi uma obra distinta de todas as demais e que mostrava o que a arte do Cinema podia (e devia) ser. Mas nesse mesmo ano os efeitos especiais estavam a dar um enorme passo e dominaram as salas desde então. Ao longo dos anos o realizador continuou a fazer filmes diferentes dos demais. Uns melhores, uns piores, mas todos memoráveis. Até que chegamos a “Gondola”, onde o que aparenta ser extrema simplicidade, na verdade está recheado de mensagens e sentimentos.

A história acompanha uma jovem que se candidata a condutora do teleférico num vale da Georgia entre dois pequenos lugares. Sendo uma forasteira, é mesmo mal recebida pelos colegas, mas não deixa que isso a afecte. Vai fazer o seu trabalho com um sorriso. Os passageiros são sempre os mesmos e também as rotinas, pelo que ela e a sua colega – que faz o trajeto contrário – começam a comunicar de formas criativas. E a rivalidade vai-se transformando em amizade e mais. Até que percebem que fazem parte do enorme ecossistema e não são apenas um meio de transporte para gente e cabras, são literalmente as linhas que unem todas aquelas pessoas.

O cenário paradisíaco em que a narrativa tem lugar só permite sonhar. As belíssimas actrizes transportam-nos para um lugar bem feliz. Os caricatos moradores são divertidíssimos. Até o chefe mal-humorado é um vilão inofensivo que permite ao filme ter alguma narrativa sem quebrar a harrmonia. E no meio de todo esse deslumbramento, reparamos num pequeno detalhe: não há diálogos. Apesar de haver vários cartazes e de encher o valoe com música, em todo o filme apenas uma palavra é dita e é um banal OK. Porque o Cinema é, desde a sua concepção, a arte de contar histórias com imagens em movimento. O som foi um adereço que veio distrair. Poderia dizer o mesmo da cor, mas aquelas paisagens devem ser vistas em todo o seu esplendor.

Por não haver cenas desnecessárias e apelativas, o trailer – infelizmente – acaba por ter de roubar muito do conteúdo central e ser um resumo do que o filme nos contará. Quem o poder evitar e passar directamente para a longa metragem, dará o tempo por bem empregue. Quem preferir filmes em que a acção se mede pelo número de explosões, escusa de entrar. Esta experiência é completamente diferente. É para desacelerar, relaxar, apreciar, e sair de coração cheio. É uma ode ao Cinema como forma de olhar e de sentir. Diria até que, nem que apenas por uns dias, tem a capacidade de mudar a nossa perspectiva sobre o mundo que nos rodeia.