Nightbitch

The secret to happiness? We should live like animals.
Mother

Já vi talvez centenas de filmes sobre lobisomens e variantes. Na maioria são de terror, um ou outro foge para a comédia. Mas só muito raramente são dramas sobre a vida. “Nightbitch” foi uma surpresa. Primeiro porque Amy Adams tem ando algo retirada dos ecrãs. Segundo, porque tal temática costuma ser para filmes indie e não costuma ter estrelas desse calibre. E a verdade é que o filme chegou a ser pensado como direto para streaming, mas acabaram por mudar de ideias e lançar para cinema, o que se revelou uma bela decisão pois valeu uma nomeação a Golden Globe para a estrela.

Amy Adams interpreta uma mãe. Como saberá quem tem filhos, essas coisas não só se tornam uma parte inportante da nossa vida, mas sáo uma espécie de despromoção social. Para todo um ecossistema – escolas, ativiudades – deixamos de existir como pessoa e passamos a ser apenas pai ou mãe de x. Esta personagem está nessa fase. Agravado por o marido trabalhar longe de casa e acabar por a deixar muitas vezes sozinha como mãe e doméstica, a Mãe está naquela ténue situação entre o stress normal e a depressão. Tem momentos de enorme prazer como mãe de uma criatura que todos os dias traz algo de inesperado para a sua vida, e tem momentos em que desespera por ter deixado de ser a pessoa que era, com um trabalho, uma rede de amigos, um propósito além de ser mãe. Uma vida.

E algo dentro dela está a mudar. Um pouco de pelo aqui, um olfacto melhorado. Um desejo incontrolável de correr noite fora com a matilha. Parte de mim queria que o filme fosse sobre isso. Mesmo que não fosse uma lobisomem a caçar pessoas, quantas vezes temos uma mulher que vagueia à noite pelos subúrbios caçando esquilos e escavando buracos? Seria deveras original!

Ignorando a componente fantástica temos um alerta simples e fundamental. Mesmo sendo criaturas mágicas capazes de criar vida, as mães continuam a ser mulheres. Um ser fantástico, mas ainda assim humano. Com pontos fracos e momentos de fraqueza. A maternidade desperta o melhor dentro delas, mas não podem deixar de ser mulheres.  E precisam do apoio da cara-metade e de toda a sua aldeia para terem momentos de relaxamento, para trabalharem, para detetarem os seus problemas a tempo e lidarem com eles, antes que eles as destruam por dentro. O bebé vai sempre querer a mãe – a ligação umbilical não é cortada – mas todos os outros devem estar por lá e tentar ser uma alternativa. E falar sempre! Não é para deixar a frustração acumular! É dito muitas vezes que entre marido e mulher não se mete a colher, mas eu nunca fui de seguir regras por isso relembro que além do bebé que exige toda a atenção e amor incondicional, existe uma outra pessoa crescida a quem também prometemos amar para sempre e, claro, temos sempre de nos amor a nós mesmos. O tempo não vai chegar para tudo, mas há casais que conseguem gerir meia dúzia de filhos, não venham dizer que com um ou dois não é possível.

O filme funciona na componente social e tem a dose certa de humor para lidar com estes temas pesados sem alienar os espectadores. A parte fantástica provavelmente foi em demasia para uma pessoa normal, mas pessoalmente não me queixo. Lamento que tenha descartado o fantástico tão cedo, mas a transição foi tão bem feita que nem se repara. Acredito que funcione especialmente bem com quem acabou de ser mãe/pai pela primeira vez. E para os que dizem que desde que tiveram filhos nunca mais foram ao cinema. E é altamente recomendado a quem estiver a caminho de ter filhos. Sumarizando, os flhos ajudam a relacionar com a personagem, mas não são pré-requisitos. Todos podem ver.