Revolução (Sem) Sangue Foram precisos cinquenta anos. Em 1974 Portugal teve uma enorme revolução. Enorme em efeitos, mas não em tempo ou em vítimas. Aliás, o país que gosta de dizer que acabou com a dinastia Filipina apenas com uma morte (defenestrando o primeiro-ministro), esquece-se de dizer que foram precisos 28 anos de guerra para Espanha concordar com essa transição pacífica). E quando dizem que o Brasil teve a sua indepedência dando um simples grito, também convenientemente ignoram os 2 anos de pequenas mas mortais batalhas. Já seria de desconfiar quando dizem “Revolução Sem Sangue”. E daí vem o invulgar título adoptado por este filme, “Revolução Sem Sangue”. Apenas uma linha sobre a palavra mais pequena faz uma grande diferença. Foram feitos muitos filmes sobre os heróis deste dia histórico. Este ano em especial estão a ser lançadas várias biografias sobre alguns dos vultos que se destacaram no pré e pós 25 de Abril. Onde é que este filme se destaca? Em fazer o oposto. Aqui não vemos a elaboração de um entrincado plano para derrumar o regime. Não temos intriga e suspense do início ao fim. Não temos um herói. Este filme é sobre o povo português. Uma série de anónimos que viviam como podiam e sonhavam com um país ligeiramente diferente, onde pudessem ser livres. Aqueles que gritavam em silêncio e se manifestavam escondidos até ao dia em que lhes disseram “por favor fiquem em vossas casas” e responderam “hoje não, hoje somos livres”. Este filme faz com que alguns em particular deixem de ser anónimos. Para que nunca sejam esquecidos. Vamos por partes. São os cinquenta anos do 25 de Abril. Todos deviam saber o que realmente se passou nesse dia. Apetece-me dizer que é obrigatório saber, mas iria contra aquilo que a data defende, portanto digo que diviam mesmo tentar aprender um pouco mais sobre a nossa história. E não a versão que se ensina na escola, uma infantilização para ouvintes de 11 anos que omite a violência e não os inspira a querer saber mais. Uma boa forma de aprender em pouco tempo é ver um filme. Quer tenham visto ou não algum outro filme sobre esse dia, não viram nenhum como este. É uma viagem no tempo como a saudosa série “Conta-me Como Foi” que explica em traços gerais como se vivia sob ditadura focando-se em situações do dia-a-dia. Neste filme o destaque vai para alguns indivíduos em particular, grupos que não se conhecem, mas que certamente se cruzaram algumas vezes na vizinhança do grande evento. “Revolução Sem Sangue” é um filme muito competente. Eu costumo queixar-me que a grande fraqueza do cinema nacional são os actores que temos, mas neste estavam todos muito convincentes (ainda que a breve cena de Jorge Mota deixe os restantes mal em comparação). Mesmo sendo um grupo vindo do meio televisivo, fazem bom cinema. Também a equipa técnica é de topo. Sou suspeito de falar visto que conheço muitos dos envolvidos, mas se não pudesse dizer coisas boas, teria optado por não escrever nada. É um orgulho ver gente do Porto a mostrar como se faz Cinema. Somos transportados no tempo e vemos o espírito revolucionário nos jovens, o medo de quem tem algo a perder, os truques de quem já viveu muitos anos sob o jugo do regime e sabe como os fintar e sobreviver. E vemos o mal personificado naqueles que perderam os últimos vestígios de humanidade e tratam os seus semelhantes abaixo de cão (acredito que mesmo no século passado seria mal visto tratar assim um animal). Não há heróis, mas é claro que há um vilão e é difícil ficar impassível perante tais atrocidades. O filme consegue desumanizar a PIDE porque não seria fácil dar-lhe uma visão diferente. Ou se leva ao ridículo (como foi muito bem feito em “Capitão Falcão”), ou são muito maus e dispensam justificação. Fazem bem em não lhes dar nomes completos porque não merecem. O filme não é sobre os opressores, é sobre os oprimidos. O breve relance que temos sobre as suas rotinas – era necessário para conhecer Lage – basta para não querermos saber mais. Para mim, é o filme definitivo sobre aquela data. Não romantiza os factos, não tenta agradar ao espectador alterando detalhes… Decerto usou alguma ficcionalização para criar um fio condutor quando não havia gente viva que pudesse contar os factos verdadeiros, mas mesmo com alguns toques de ingenuidade é um filme completamente credível e um fiel retrato da época. Se há uns anos para ir ao cinema era preciso máscara e não nos podiamos assoar, na antestreia fizeram precisamente o contrário: entregaram pacotes de lenços, caso os espectadores tivessem problemas nasais ou lacrimais. Especialmente pela componente musical, pois foram buscar músicas que têm significado para quem viveu aquela época, mas que funcionam por si só para um jovem que não saiba nada sobre os anos 70. Já o disse e repito, é um filme que tenciono rever algumas vezes em sala. Contam-se pelos dedos a quantos filmes realmente o fiz e este vai ser um deles. Blood(less) Revolution 20241 h 43 min Click an icon to see more Overview Baseado em factos reais, “Revolução Sem Sangue” conta a história de quatro jovens que seguem as suas rotinas diárias num regime ditatorial. Embora não se conhecessem, o dia 25 de Abril de 1974 trouxe-lhes um destino comum. Um golpe de Estado militar derrubou o Governo e a população foi incitada a permanecer em casa. No entanto, a ânsia pela liberdade levou-os, junto com a multidão, para as ruas. Esta é a história das suas vidas. Metadata — Director Rui Pedro Sousa Writer Rui Pedro Sousa, Amp Rodriguez Runtime 1 h 43 min Release Date 11 April 2024 IMDb Id tt18253426 Details Movie Media — Movie Status — Movie Rating Excellent Images No images were imported for this movie. Actors Starring: Helena Caldeira, Dinarte de Freitas, Rui Pedro Silva, São José Correia, Luís Simões, João Bettencourt, João Arrais, Diogo Fernandes, Lucas Dutra, João Pedro Vaz, Miguel Monteiro, Rui Neto, Catarina Avelar, Rafael Paes, Patrícia André, Francisco Monteiro, Jorge Mota, Luís Ganito, Gustavo Rebelo, Manuel Nabais, Luís Mascarenhas, Fábio Batista, Tomás Furtado de Melo, João Amaral, Rodrigo Oliveira, Luís Lucas, Filipe Homem Fonseca, Maria Viralhada, Daniel Pinheiro, Catarina Siqueira, Tiago Negrão Pinheiro, Teresa Vieira, Ana Bacalhau, Paloma Del Pillar Uncategorized