The Adam Project

Com uma enorme influência dos clássicos dos anos 80, The Adam Project só pode ser descrito como um verdadeiro projeto de sonho. Daqueles que nascem da nostalgia, crescem com a tecnologia atual e se tornam realidade graças ao poder de quem pode fazer (quase) tudo em Hollywood.

Afinal, que tal seria ter o dinheiro, os contactos e o estatuto para concretizar qualquer ideia maluca que nos viesse à cabeça? Ryan Reynolds já chegou lá. Depois de acumular uma carreira de sucessos comerciais, carisma de sobra, e talvez ainda maior sucesso nos negócios – graças a um talento inato para o marketing e uma base de fãs que parece disposta a seguir o actor até ao fim do mundo – a dificuldade deixou de ser “como fazer?” e passou a ser “o que fazer a seguir?”. A escolha acabou por recair sobre um guião que esteve durante uma década no limbo de Hollywood, como milhares de produções que nunca chegaram a arrancar. Mas bastou Reynolds interessar-se para a engrenagem começar a girar. Com outro ator, talvez não funcionasse. Com ele, tornou-se inevitável.

Adam, um miúdo de 12 anos, vive em luto pela morte recente do pai. Não se entende com a mãe e está claramente à deriva. Até que, numa noite qualquer, dá de caras com um estranho na garagem. É um viajante no tempo, vindo do futuro. É ele próprio, mais velho. O Adam crescido tem uma missão importante, claro, cheia de implicações sobre o futuro da humanidade, mas a verdade é que também ele está profundamente marcado pela perda do pai. E talvez esteja ali, mais do que tudo, para tentar curar essa dor. Só que a relação entre as duas versões de Adam não é exatamente pacífica. Falam de formas diferentes, pensam de formas diferentes… Conseguirão estes dois Adams, tão distantes e tão iguais, salvar o mundo… ou sequer salvar-se um ao outro?

Se tudo isto soa a um filme que já vimos antes… É suposto. The Adam Project é, em muitos sentidos, uma carta de amor aos anos 80. Aquele período mágico em que o cinema era feito com coração, as aventuras eram protagonizadas por crianças e adolescentes com mais coragem do que juízo, e as viagens no tempo vinham sempre acompanhadas de gadgets estranhos, vilões de visual duvidoso e frases memoráveis. O filme é um concentrado de tudo isso. Não esconde as referências. Há cenas inteiras que parecem homenagens disfarçadas (ou nem tanto) a clássicos que definiram uma geração. Até as armas futuristas parecem saídas de um museu de cultura pop — com designs que nos fazem pensar “espera lá, isso não tem direitos protegidos?”

O elenco ajuda a dar substância ao que poderia ser apenas um exercício de estilo. Zoe Saldana, Jennifer Garner , Katherine Keener e Mark Ruffalo sabem o que fazem. Há química, há ritmo, e, claro, há Ryan Reynolds a fazer de Ryan Reynolds. Apenas com uma camada emocional mais rica do que estamos acostumados a ver.

É verdade que o filme não inventa a roda. E, se quisermos ser exigentes, talvez pudéssemos pedir uma história mais complexa ou reviravoltas menos previsíveis. Mas esse não é o objectivo. Dentro da categoria filme-pipoca, The Adam Project é um dos melhores dos últimos anos. Tem tudo o que se pode querer para uma noite de cinema em modo confortável: acção bem coreografada, humor em doses generosas, emoção sincera e, sobretudo, aquele sentimento raro de estarmos a ver algo familiar sem ser reciclado.

Temos heróis imperfeitos a lutar contra inimigos do futuro e fantasmas do passado. Temos vilões com motivações reconhecíveis, ainda que não totalmente desenvolvidas. Temos cenas de acção com efeitos visuais competentes, sem caírem na armadilha do excesso. E temos um argumento que, mesmo quando tropeça nos clichés, sabe manter-se suficientemente coeso para nunca perder o espectador. E, claro, temos as tais referências que servem de brinde para os fãs mais atentos trazendo surpresas mesmo em visionamentos futuros.

Em resumo: The Adam Project é um filme que sabe exatamente o que quer ser. Não pretende reinventar o género, mas sim celebrá-lo. É entretenimento puro, com o coração no sítio e memória do que o precedeu. E às vezes, isso é mais do que suficiente.