Top Gun: Maverick

Na última década, se há um nome familiar a quase todos os que assistem a sétima arte é o de Tom Cruise. E ao contrário do que o bom senso indica, à medida que envelhece o actor tem focado cada vez mais as suas opções carreira nos filmes de acção. Pois o filme que começou tudo isso no distante ano de 1986 foi o incontornável “Top Gun” e Cruise pode ter demorado, mas não recusou regressar à sua icónica personagem.

Os mais 30 anos que passaram por todos nós desde que o esquadrão conseguiu completar o curso de piloto, não significaram um percurso convencional para o às dos ares. Enquanto Iceman chegou a Almirante é trabalha atrás duma secretária, Maverick foi fintando as promoções e a morte para se manter no cockpit a voar. Até que num dia invulgar o obrigam a aceitar um posto de formador. O rebelde terá o que é preciso para treinar os próximos Top Gun, ou a tentação de se exigir finalmente levará a melhor?

Não é fácil fazer uma sequela digna para um filme apreciado. Quando se trata de um filme que todos conhecem (e muitos adoram) ainda é pior. As expectativas do público são o pior tipo de pressão que alguém pode desejar. De certa forma o envolvimento extremo de Cruise em cada projecto dava algumas garantias. Com ele nunca é uma questão de dinheiro. Mas seria uma aventura dos anos 80 facilmente transportada para outro século, quando – e o próprio filme admite – já nem o exército investe nos pilotos humanos? Basta ver que “Good Kill” foi feito em 2014 e já então os pilotos da USAF estavam a desempenhar missões por drone. Pois a vantagem de ir sem expectativas para um filme é que somos sempre agradavelmente surpreendidos. Cruise regressou facilmente à personagem. Jennifer Connelly apesar de ser nova na saga como também já era uma estrela em 1986 integrou-se bem no imaginária. E a participação de Val Kilmer dentro das suas conhecidas limitações, além de ser uma bela homenagem, trouxe muito valor à história.

Quanto à narrativa, tem todos os buracos que se esperaria e se ignora num filme de acção. A parte da escola é muito competente. A missão tem a loucura em excesso que faltou ao resto. E apesar de estes trinta anos terem trazido mais diversidade de género e raça à turma dos candidatos a pilotos, somos regularmente transportados para o primeiro filme com as devidas homenagens. Maverick é quem sempre foi e não admite que possa estar menos apto. Pelo contrário, aparenta ser muito mais capaz no seu papel de mentor dos jovens do que era como herói solitário. Isso devido ao facto de já não ter Goose do seu lado e finalmente estar preocupado com as vidas dos que o rodeiam. É um filme que tanto convence os quarentões e cinquentões que apenas querem escapar por momentos para uma era passada, como agrada aos jovens que querem ver este filme sem trazer a bagagem emocional e memórias.

No seu todo é um filme demasiado longo que cumpre todos os requisitos que se esperava ver na sequela e que alimenta o desejo de ver mais num futuro não tão distante. Como seria de esperar, os efeitos são mais reais que nos habituais filmes criados por computador, mas hoje em dia isso acaba por não se notar além do custo no seguro da produção. Considerando as recentes sequelas vindas de décadas há muito terminadas, esta é das mais equilibradas e não desiludiu.