Your Monster

Há poucas missões mais complexas do que misturar vários géneros numa premissa pouco original e ainda fazer algo refrescante e que se vê com prazer.

Melissa Barrera tem feito alguma carreira no terror como dois filmes do universo “Scream” e “Abigail”. Quando o nome desta mexicana surge no elenco de um filme com a palavra monstro no título, é sempre para ficar curioso. “Your Monster” não encaixa na definição convencional de terror. É mais próximo da romcom, com toques de drama. Os fãs do terror devem estar conscientes disso para não ficarem desiludidos ao longo da primeira hora.

A história acompanha Laura Franco (Barrera), uma actriz a quem a vida prega uma partida. Quando o regresso a casa dos pais parecia ser o ponto mais baixo da sua vida, descobre que o monstro que a assombrava em criança ainda vive no armário do seu quarto. Aliás, ultimamente tem ocupado a casa toda e não fica nada contente por ter de a partilhar. Na perspectiva de Laura as coisas já estavam mal o suficientes. Ter um “ocupa” resmungão que a quer pôr fora da casa não melhora a situação. E a quem se pode queixar de um monstro que ninguém mais vê sem ser internada?

A premissa é deveras curiosa, mas de certa forma tem a receita ideal para a levar a bom porto. Caroline Lindy aprendeu na curta com o mesmo nome o que podia funcionar ou não e acaba por ser bastante acertiva nesta sua primeira excursão fora das curtas. Por um lado temos a tragédia da jovem cuja vida desmonora. Do outro o monstro é um reflexo da sua infância. E ainda os papéis que Laura vai praticando na luta inglória para se reerguer. Tem muito de “A Bela e o Monstro” – jovem mulher presa com um monstro que se acha o maior e a despreza – mas ao mesmo tempo é sobre os problemas reais. Sobre as dificuldades de uma geração em ser independente. Sobre a criança interior que teima em nos puxar para o que fomos. Sobre a solidão num mundo cada vez mais cheio de gente e de ligações falsas.

Com vários truques de tele-filme e tudo o que se poderia esperar de um mau filme, esta pequena surpresa consegue derrotar os preconceitos. Não apenas como guilty pleasure, mas mesmo como uma obra merecedora de atenção. Até nos oferece um número musical no que deveria ser a cena mais assustadora! E ainda que a edição desse momento não tenha sido perfeita, foi bastante compentente para o que certamente foi um orçamento reduzido.

Ainda que não tenha grande futuro no cinema, será um filme a rever várias vezes na televisão.