“Deus Não Quis” por Nuno Reis

Não é normal criticar curtas neste espaço. Lembro-me de ter escrito sobre “I’ll See You In My Dreams“ e deve ter sido a última. Não é por não ver ou não gostar, mas corria o risco de escrever tanto que não valesse a pena ver o filme depois de me lerem. Para esta abro uma excepção. “Deus Não Quis” é um filme imperdível que por si só vale o dinheiro do bilhete, caso não queiram ver a longa que o acompanha.

Em 2007 fiz parte do júri de Ourense. Tinha em mãos a difícil tarefa de avaliar as longas-metragens de ficção. Quando acabaram os visionamentos e sobrou mais tempo para socializar, encontrei um dos poucos portugueses lá presentes. Era o António Ferreira e estava lá com o seu filme em competição. Pela descrição quinze minutos de um filme mudo com uma música repetitiva ia ser uma valente seca, mas num gesto de puro patriotismo fui ver a sessão de curtas onde participava. Que filmão. A música era a única razão de ser do filme, o diálogo seria um intruso. Os quinze minutos passaram a correr e souberam a pouco. A história cativa e, mesmo agora que passaram dois anos, ainda me lembro perfeitamente de tudo.

A ideia base do filme é simples. Laurinda e Ramiro são um casal apaixonado. A guerra leva-o emprestado, mas ele torna a vir se Deus quiser. Partindo disto nasceu uma verdadeira pérola da produção nacional, onde o Cinema reaparece como arte. É um dos filmes mais intemporais que já se fez em Portugal.

Para evitar falar de mais termino por aqui com o making of. Dura menos que o filme.

Como o cinema é feitos dos pequenos acasos, deixo ainda duas curiosidades:
1. O festival de Ourense está a decorrer nesta precisa semana
2. quando voltei do festival comentei a muita gente que tinha descoberto este tesouro. Uma das pessoas que me ouviu já conhecia o filme. Vim a saber que o argumentista trabalhava na mesma empresa que eu e Triantafillo era apenas pseudónimo. Imaginem que tinha vindo a dizer mal… Este mundo do cinema é mesmo pequeno.