“Linha de Passe” por Nuno Reis

Crime e futebol é aquilo que o Brasil mais dá ao cinema e este filme é mais um exemplo disso. Essa é a mini-história de Dario que se quer tornar jogador a todo o custo. Num país onde a bola é a única forma de sair da pobreza e todos sabem jogar, terá de alterar as regras para se distinguir. O irmão mais novo anda em vários autocarros à procura do pai que é motorista. A inocência torna esta história comovente. Fora desses mundos de ilusão estão os irmãos Dénis e Dinho que já trabalham. Dénis ganha a vida a fazer entregas de mota e Dinho, o mais educado e trabalhador de todos, num posto de abastecimento. Os quatro acabam envolvidos em crimes e a mãe tem de suportar toda essa dor e sentimento de culpa.

Qual o problema de “Linha de Passe” para ter desaparecido das salas tão depressa? Chegou cá onze meses depois de ser premiado em Cannes, era falado em brasileiro, o que costuma ser uma ajuda no mercado nacional, e era do conceituado Walter Salles para que ninguém hesitasse. As pessoas que não o foram ver devem ter pensado o mesmo que quem o viu. É um filme bem feito, tem uma boa história e é bastante realista. Os momentos de futebol são filmados com uma emoção tão genuína como só um brasileiro conseguiria. Mas é igual a tudo o que o cinema brasileiro nos tem dado na última década. São sempre histórias de pessoas simples que tentam sobreviver numa cidade cosmopolita, o crime está presente em tudo e os valores morais pouco distinguem os heróis dos vilões. Vivem perante dilemas constantes e no fim do filme parece que continua tudo na mesma, tanto para a personagem, como para o mundo e para o cinema brasileiro. “Linha de Passe” é exactamente isso. Uma mãe tenta educar 4 filhos e tem mais um a caminho. Além de pedra basilar daquela família é a pessoa que aparenta ter menos complicações. Cada um dos filhos tem um pai e um problema, um deles já tem inclusivamente um filho seu, e não sabem como lidar com eles. Entre roubos e falsificação de documentos são mostrados retratos de uma geração que só não tem uma vida melhor porque a sociedade não o permite.

A palma de melhor actriz para Sandra Corveloni foi merecida, pouca concorrência havia e tem um papel excepcional. Se pensarmos que os actores são na sua maioria amadores (a excepção é Vinícius de Oliveira que foi a pequena estrela de Salles em “Central do Brasil“) mereciam todos um prémio. Que mais tem o filme para dar? Muito, mas nada de novo. Quem viu um filme viu todos. Também o cinema brasileiro começa a precisar de inovar. Actores sempre tiveram, agora faltam os argumentos.