“Mio Fratello È Figlio Unico” por Nuno Reis

Os anos 60 foram marcados pelos confrontos sociais em todo o mundo. Na Europa o espectro da Guerra começava a afastar-se e uma nova geração – nascida na guerra, mas que não a viveu – exigiu mais mudanças. Movimentos de esquerda e direita atraíam as massas e colidiam em cada esquina. É nesse tempo e nesse mundo que vamos encontrar os irmãos Benassi. Manrico, o mais velho, é um feroz comunista como toda a família. Accio, o mais novo, no seu convívio com um vendedor de toalhas acaba por ver o lado bom do governo fascista e alista-se na extrema-direita.
Entre Accio e Manrico há tensão, há lutas frequentes, mas também há muito amor. Os dois jovens crescem num mundo em mudança e nenhum deles imaginava aquilo em que se tornariam. Na política como em tantas outras coisas o lado do bem e o do mal não são óbvios. Ambos crescem a perseguir um ideal e acabam a fazer o contrário do seu sonho.

A interpretação de Germano é muito boa, como herói ou vilão mantém as atenções centradas em si. Scamarcio começa bem a dar ao imagem de rebelde e de revolucionário confiante, depois o papel vai perdendo importância e é quase esquecido. Diane Fleri apesar de ter um papel pequeno está deslumbrante e lentamente vai conquistando o seu lugar na história.
O realizador Daniele Luchetti já competiu nos principais festivais europeus (San Sebastian, Locarno, Cannes, Veneza), mas o único prémio que levou para casa foi o David.da Academia Italiana que ganhou por três vezes, a última já por este “Mio Fratello”. Ajudado por dois argumentistas com vasta carreira e alguns dos actores mais promissores do país, construiu em torno de um livro de 2003 uma referência do cinema moderno italiano.

O argumento não tenta complicar. É uma história com um objectivo concreto, que se mantém directa. Mistura política e amor, tem alguma violência e intriga, mas também tem a beleza da simplicidade. No fundo é apenas um conto sobre a vida, a política é apenas o cenário onde estas vidas por acaso se deslocam.