“The Damned United” por Nuno Reis

Um dos maiores feitos futebolísticos nacionais da década foi a exportação de treinadores para todos os cantos do mundo (enquanto isso importamos um estrangeiro para comandar a nossa selecção…). O motivador desse fenómeno foi José Mourinho com as suas conquistas consecutivas na Europa e a transferência milionária para o Chelsea. Inglaterra ficou dividida entre o amor e o ódio a esta personagem singular. Ou não será assim tão singular?

Nessa mesma Inglaterra há quarenta anos surgiu um treinador semelhante. Brian Clough jogou como avançado e depressa chegou a treinador. O seu início de carreira no Derby ficou marcado pelo jogo com o poderoso Leeds então comandado por Don Revie. Nesse jogo o todo-poderoso treinador ignora o colega de profissão e isso despoletará no jovem um desejo de vingança. Decide vencer Revie no seu próprio jogo e ser melhor treinador que ele. Quis o destino que anos depois Revie fosse contratado para a selecção ficando o lugar no Leeds para Clough. Ao longo do filme vamos acompanhando a vida profissional de Clough a dois tempos. No Derby, onde conseguiu promoções e títulos, e no Leeds onde foi um fracasso. A diferença estava em Peter Taylor, seu assistente de longa data que sabia exactamente que jogador era necessário à equipa para cada momento.

Ao longo do filme vamos conhecendo e compreendendo Clough. Perfeccionista, obcecado com os resultados e fair player. Sempre pronto a expressar as suas opiniões em directo, nem sempre com delicadeza. Um homem complexo que não se chega a conhecer como treinador em campo pois pouco se fala disso. Aqui é especialmente mostrado como ser humano, como pai e como amigo. O seu brio profissional pode ser separado do futebol e usado em qualquer outro contexto pelo que agradará a qualquer público. O género de pessoa que se quer por perto, mas que não se suporta. Nem ele nem Peter Taylor são grandes treinadores, juntos são os melhores do mundo como toda a carreira pode demonstrar.

O filme está bem construído. Foi realizado Tom Hooper, o mesmo da premiada série John Adams. “The Damned United” é um produto tipicamente britânico pelo humor e pelo orgulho patriota. Destaca-se a interpretação fabulosa de Michael Sheen e a ainda melhor de Timothy Spall. Jim Broadbent tem um pequeno papel como em qualquer filme britânico que se preze.
Tem noventa e poucos minutos como qualquer jogo de futebol, mas pedia-se prolongamento. Optaram por deixar o ponto alto da carreira dele de fora por fazer parte da História do futebol. É o melhor seleccionador que Inglaterra nunca teve e ainda bem para os outros países.