“The Devil’s Double” por António Reis

The Devil’s Double, o terceiro filho de Saddam Hussein

O cinema é muitas das vezes mais feliz em copiar a realidade do que em inventar histórias. “The Devil’s Double” é um bom exemplo de como a vida é mais inspiradora e mais rocambolesca que a imaginação dos mais prodigiosos argumentistas. Que Saddam Hussein tinha sósias que o substituíam dificultando-o como alvo dos seus inimigos, era uma das pequenas histórias que se conheciam do regime de Bagdad. O seu filho Uday, um dos mais sinistros do clã, tinha também o seu sósia e a história deste homem e as prodigiosas aventuras por que ele passa como clone de Uday são o tema do filme.
Este fundo verídico e o facto de intercalar as imagens das guerras contra o Irão, do Kuwait, e a invasão do Iraque, tornam “The Devil’s Double” uma docu-ficção, de apurada produção e com uma narrativa. que prende o espectador até ao fim, apesar de todos sabermos o fim da história.

Se como dizia Bernard Shaw “todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”, o regime de Saddam era o retrato da corrupção absoluta. Uma riqueza e um fausto das arábias convive com uma absoluta falta de escrúpulos e de valores. Uday só pensa em droga, mulheres (ou não), carros de marca, jogo em casinos e num uso tirânico do poder, onde todos os que se opõem são torturados e mortos. É neste mundo que Latif vai entrar, perdendo a sua família, a sua identidade, a sua personalidade, para se tornar num Uday II que nem o próprio pai e irmão distinguem do original. Para que os ingredientes destes mil e um pesadelos de Bagdad estivessem completos só faltava mesmo uma paixão impossível entre a concubina preferida e o falso Uday.

Um notável desempenho de Dominic Cooper (“Mamma Mia!“, “The Escapist“, “An Education“) num muito interessante registo de múltiplas personalidades e variações de humor que o confirmam como um dos grandes talentos da nova geração britânica. Estreado em Sundance logo seguido de Berlin – e só aqui se vê dois festivais de criteriosa selecção dos seus filmes – ficamos a aguardar a sua rápida estreia em Portugal. Para ver mal estreie.