“The Town” por Nuno Reis

Ben Affleck estreou-se na realização de longas-metragens com um interessante “Gone Baby Gone” (críticas por AR, NR). No ano em que o irmão Casey colaborou como realizador na farsa “I’m Still Here“, Ben também voltou para trás das câmaras, com um filme ainda mais aclamado. O mote foi dado pelo romance “Prince of Thieves” de Chuck Hogan que adaptou muito fielmente para cinema.

Em “The Town” Affleck combina a função de realizador com a de protagonista. Ele é Doug MacRay, líder de uma quadrilha especializada em assaltos. A maior preocupação de Doug é Jim (Jeremy Renner), um membro demasiado nervoso do bando que já tem duas condenações e não mostra sinais de estar a ficar mais controlado. Já têm uma longa expiência em assaltos, mas o primeiro golpe do filme é um assalto a um banco às primeiras horas do dia. Como a polícia foi avisada, improvisam e levam a gerente (Rebecca Hall) como refém por precaução. O que para eles foi apenas uma alteração de minutos, para ela foi um abanão que mudou a perspectiva de vida. Jim não tem a certeza se é seguro deixá-la viva e por isso Doug vai sondar o que ela sabe. Acaba por cair por ela e começa a viver em dois mundos. Por um lado quer estar com ela e deixar o crime, por outro tem uma obrigação para com Jim e o Florista que coordena os golpes deles a troco de uma comissão. Como era de esperar a polícia (o FBI) anda atrás deles, tem fortes suspeitas e a relação entre vítima e suspeito não os convence.

Os heist movies tornaram-se recorrentes nos últimos anos. Raros os que se aproveitam. Aqui temos uma história interessante (se bem que não muito inovadora), actores talentosos, e a realização melhorou consideravelmente desde o último trabalho de Affleck. As diversas personagens revezam-se no ecrã trazendo valor à narrativa. Seja pelo romance ou pelo crime é sempre cativante e até a investigação policial, que parecia a componente mais fraca, no final tem o seu momento.
Como melhor do filme destacaria a criatividade dos disfarces. Numa cidade com um passado de assaltos – curiosidade referida logo no inicio do filme – um grupo de criminosos além de se superiorizar à polícia ainda ter cabeça para tratar de pequenas coisas como disfarces originais… é simpático da parte deles. Outra menção para a participação de Postlethwaite no penúltimo papel da sua grandiosa carreira.

É um filme que merece ser visto se bem que a versão chegada aos cinemas tenha sido amputada pelos interesses comerciais. Espero que tenha sido isso o que deixou Chris Cooper com um papel miserável que não merecia alguém com as suas capacidades. A versão director’s cut (em DVD) de duas horas e meia promete.