“Vantage Point” por António Reis

Não basta um lote de actores de primeira linha (Sigourney Weaver, Dennis Quaid, Forest Whitaker, William Hurt) para garantir um grande filme. Esta verdade elementar não impede que seja um eventual sucesso de bilheteira. Também não basta um argumento laborioso e intrincado, onde as diferentes peças – ou seja, as diferentes perspectivas sobre o mesmo acontecimento – se encaixam como num puzzle, para tornar um filme interessante. Ainda menos basta uma acção vertiginosa, perseguições capazes de causar enjoos ao espectador para que um filme tenha consistência narrativa. “Ponto de Mira” tem as três características acima anunciadas num cocktail que associa ainda o tema do terrorismo e dos seus tentáculos.

A vítima vai ser o presidente dos Estados Unidos, a cidade é Salamanca e o sítio é a Plaza Maior. Neste lugar uma multidão prepara-se para aplaudir uma iniciativa de paz inter-cultural e inter-étnica , comício em que um hipotético presidente dos EUA vai ter o destaque principal. Sobretudo porque vai ser a vítima de um mais que bem planeado homicídio, ainda que o moribundo seja afinal o seu sósia. Thomas Barnes, o agente especial regressado à ribalta depois de estar no limbo é o anti-herói de uma trama inverosímil onde vilões, agentes secretos, terroristas e até cidadãos aparentemente comuns se cruzam com versões diferentes sobre o que realmente aconteceu e onde está o suspeito. O tempo volta para trás sucessivas vezes e a cada novo flashback percebe-se uma outra peça de puzzle. A mestria dos efeitos que os suportes digitais de uma transmissão em directo permitem faz de “Ponto de Mira” um exercício de estilo sobre o papel da montagem. E neste sentido é um filme bem conseguido. Como thriller político, género relativamente comum no cinema americano, tem dois defeitos a que Pete Travis não foi capaz de resistir: a parafernália tecnológica toma conta da narrativa e o realizador (ou quem manda) não resistiu a uma moral lamechas de final feliz. Quando um bando de poucos terroristas são melhores profissionais que a segurança do presidente da maior potência do mundo não acham que a civilização está perdida?