“You Will Meet a Tall Dark Stranger” por Nuno Reis

Uma mensagem tão vaga como “vai conhecer um homem alto e moreno” poderia vir num bolinho da sorte ou ser dita por uma talentosa vidente por correspondência. No por enquanto mais recente filme de Woody Allen é o segundo caso. Uma vidente é, indirectamente, o centro do filme se bem que esta frase só seja usada uma vez e não tenha relação com nada mais do que aqui se passa.

Helena (Gemma Jones) e Alfie (Anthony Hopkins) era um casal feliz com uma filha até que Alfie decide partir em busca da juventude perdida numa crise de meia idade pouco própria para um septagenário. Helena refugia-se nos conselhos de uma cartomante que lhe diz o que ela quer ouvir e a começa a indrominar lentamente. Depois há a filha do casal, Sally (Naomi Watts), que também tem problemas no casamento. O marido Roy (Josh Brolin) quer ser escritor e viver disso, em vez de se dedicar ao emprego bem pago da medicina para o qual estudou e em que se formou. Além de todos estes há ainda um leque de personagens secundárias como a amante de Alfie, o patrão de Sally, os amigos de Roy, a mulher de vermelho e, como não podia deixar de ser, a cartomante.

As cenas que se sucedem são pedaços mais ou menos realistas de vidas. Se na terceira idade ainda se aceita que possa ser assim, a vida do jovem casal é por vezes tão surrealista que deixa de ser credível. O que há é um conjunto de lugares-comuns e situações mais do que recicladas em cinema a serem agora filmadas por Allen.
Quando Woody Allen faz um filme costuma ser muito controlado e selectivo nas vedetas. Dois ou três nomes sonantes a que antigamente se juntava o próprio. Agora que reuniu um elenco de estrelas esperava-se algo proporcionalmente marcante. Parece que a intenção foi a contrária e tentou distrair o espectador com as estrelas por não ter algo de relevante a dizer.
Saltando entre Gemma Jones, Anthony Hopkins, Naomi Watts e Josh Brolin, não sobra tempo para definir um fio narrativo, para ter uma história. É um belo filme e com interpretações de qualidade, mas falta-lhe mais sumo, um desfecho mais bombástico e cinéfilo do que a moral deprimente sobre a vida real. Tem todo o aspecto de ser alguma espécie de private joke, um filme feito para alguém em particular, mas que não dirá nada ao público generalista. É pena porque a matéria-prima podia ter servido para fazer um grande filme..